sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Encarando os medos [um sonho infantil]

 Olhei o meu herói subindo pelas paredes, com muito cuidado para não esquecer cada passo. Ele sempre foi muito forte e muito inteligente e eu sempre o amei. Ele não fez parte dos quadrinhos ou da TV, também nunca foi o Batman e nem o homem aranha, mas podia enfiar os dedos nas paredes esburacadas e alcançar as lages. Eu queria ser como ele, meu irmão mais velho, que sempre me passou tudo que sabia e queria me tornar tão forte e inteligente quanto ele. Naquele dia eu o seguir por toda parte, foi quando ele parou enfrente a parede do banheiro. Olhou analisando por onde começaria. O banheiro de nossa casa tem uma lage e, por um projeto mau feito, era quase do lado de fora da casa – se não fosse a parede da pia a mesma da cozinha – então uma das paredes do banheiro ficava próximo da janela da cozinha. E foi por essa janela que Ismael começou a sua escalada, depois disso foi colocando os dedos dos pés e os das mãos nos primeiros buracos que encontrava. Sem perceber eu vinha atrás, logo em seguida, procurando os mesmos buracos e me segurando pelos mesmos dedos – não sei como dedinhos tão frágeis como aqueles de cindo anos conseguiram se segurar – e abaixando um pouco a cabeça me viu subindo e riu. Disse:
 – Coloque os dedos naquele buraco, e agora nesse mais perto...
Eu gosto disso nele, pois não me manda parar. Ao contrário, me incentiva mesmo se for uma loucura.
Nesse dia ele fez o que comigo sempre fez, esqueceu o que minha mãe poderia falar ou reclamar, para que eu subisse e me sentisse como gente grande. Depois que cheguei lá em cima demos juntos muitas risadas. Porém quando minha mãe viu ficou desesperada
 – Meu Deus! Menina como você foi parar ai?!
 – Deixe!Que eu sei descer, eu sei descer – respondi toda feliz
E minha mãe em pânico lá embaixo gritava:
 – Não! Não desça Joice, fique ai. Milton vá pegar uma escada – mais tranqüila ela rir – olha só onde está a sua filha. Fique ai Cê! Seu pai vai pegar a escada.
 – Não preciso, eu sei descer sozinha – respondi sorrindo
 – Não desça!
Grita a minha mãe. Veio a escada e Dona Zylma me passava todos os passos que eu deveria dar, me pedia para vim devagarzinho. Será que ela não tinha entendido? Eu subir aquilo sem escada, ela não precisava temer. Em minha aventura eu só tinha medo de ter medo, na verdade encarei tudo aquilo com outros olhos...
...todos os equipamentos na bolsa e não posso mais me demorar. Ou então, o Rei e o meu Pai irão chegar e me impedirão de ultrapassar a montanha e vencer a guerra. Então lancei a minha corda e subi me apoiando nela, e foi por ela que me conduzir. Uma corda forte que me deu condições para prosseguir, graças a ela subir a montanha e defendi o meu povo. Quando o Rei e o meu Pai souberam da minha partida já estava tudo bem e eu já havia chegado. Eles viram que meu corpo estava ferido, mas se tranquilizaram me vendo vivo e com a coroa do outro rei na mão. Enviaram os melhores criados e cuidaram de todas as minhas feridas...
... – Menina nunca mais faça isso. E você Ismael, não deixe mais essa menina fazer isso.
E então meu Rei, meu Pai, meu Herói e eu (sua discípula) caímos na gargalhada.




J.A. de Jesus.

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